segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Conheça a mulher que amamentou uma criança desconhecida

“Quando eu tinha sete anos de idade. Meu irmão morreu dentro do barraco quando era bebezinho. Por isso que eu não gosto de ver essas cenas”, conta Janaína.

Janaína é doméstica, tem 22 anos. Flordeliz, ex-professora, 48. Da mulher, com um carrinho de bebê numa estação de trem, nem o nome se sabe. O que elas têm em comum? O tal do instinto materno. É por isso que elas, com suas histórias emocionantes e exemplares abrem o Fantástico de hoje.

“O maior momento de carinho entre mãe e filho é a amamentação”

“É um momento especial”.

Esse ato tão particular entre mãe e filho, o de amamentar, ganhou uma nova dimensão domingo passado, dia 11 de outubro. Um incêndio destruía uma favela no Jaguaré, Zona Oeste de São Paulo.

No meio da correria, alguém se lembrou das pessoas mais indefesas. No meio da confusão, Janaina parou para amamentar Beatriz. Uma criança que ela nem conhecia.

“Não, eu não conheço. Dá dó de ver criança chorando com fome. Eu já passei por isso”, disse.

A pequena Beatriz, de seis meses, é filha de Erica: “Quando a gente avistou o fogo, todo mundo ficou desesperado. As pessoas do prédio ligaram as mangueiras para molhar os barracos para ver se não chegava até onde a gente morava, mas não teve jeito. Quando eu dei a volta o fogo já estava do lado da minha casa”.

Janaína, a mulher que deu de mamar, tem 22 anos. Nem morava na favela. Vive em um conjunto habitacional logo ao lado: “Na hora que eu saí, a minha vizinha falou Janaína, tem alguma favela pegando fogo. Avisei as outras pessoas daqui e falei vamos para lá, vamos ajudar, vamos tentar apagar o fogo”.

Começava, assim, uma história de carinho no meio da tragédia. Janaína correu para favela. Agora, uma semana depois, em meio às cinzas, ela conta: teve que enfrentar o trauma de um outro incêndio, que viveu quando era criança.

“Quando eu tinha sete anos de idade. Meu irmão morreu dentro do barraco quando era bebezinho. Por isso que eu não gosto de ver essas cenas”, conta Janaína.

Enquanto os barracos queimavam, Janaína procurou primeiro os amigos que moravam aqui: “Eu só sosseguei depois que eu achei eles. Foi na hora que apareceu a bebê que estava com fome”.

“Eu deixei Beatriz com minha irmã. Mais o pai dela, falei segura ela que eu vou ver as meninas. Daí apareceu uma mulher pra dar mamar por ela, não sei quem é. Nunca tinha visto”.

“Ela ficava assim na tia dela, puxa pra tentar mamar, como se a tia dela tem leite”.

Foi então que Janaína, que tem quatro filhos e está grávida, se ofereceu: “Ela ficou chorando e aquilo começou a me apertar, eu olhava, disfarçava, eu falei você quer que eu de mamar para ela, eu tenho leite. Eu amamento, mas ela ficou meio assim, eu falei ‘não, me dá que eu amamento. Ela só parou de chorar quando eu coloquei o peito na boca dela”.

“Achei que ela foi uma segunda mãe, né? Para pegar assim os filhos dos outros e amamentar. Muito lindo, eu até quero ver ela para agradecer”.

O Fantástico acompanhou o reencontro. Quando viu Beatriz, Janaína sorriu.

“Consegui encontrar a pequena”

“Eu queria agradecer, dizer muito obrigado. Por você ter esse ato de amor que você é mãe e eu também sou. A Beatriz quer agradecer né, Bia? Muito obrigado né? Se precisar de alguma coisa, pode contar comigo”

Naquele dia, enquanto tudo isso aqui pegava fogo e os moradores estavam ocupados, tentando salvar alguma coisa, havia outros bebes esperando pelos pais. A pequena Beatriz foi a primeira, mas não a única criança, a ser amamentada pela Janaína.

“Dei de mamar a, acho, cinco ou seis crianças. Não estou muito bem lembrada, também não sei onde mora. Nem conheço. Que ainda por conta quando cheguei em casa ele queria mamar e já não tinha mais leite, tive que fazer um leite ralado como se fosse mais água do que leite, porque só tinha um pouco. Ele nem quis”, lembra Janaína.

Janaína, que é empregada doméstica e havia combinado de trabalhar no domingo à noite, faltou. E foi demitida: “Ela falou ‘arrumei outra pessoa, não precisa, e eu vou viajar’”.

Mesmo assim, Janaína não se arrepende: “Foi gostoso pegar ela no colo, fora as outras crianças que eu peguei para dar de mamar naquele dia. Me senti a pessoa mais importante do mundo, em poucos momentos que eu fiquei com eles”.

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